domingo, 23 de dezembro de 2007

EU


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...


Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...


Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...


Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Meu amor meu amor


Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu pássaro cinzento
a chorar a lonjura do nosso afastamento

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

Ary dos Santos

sábado, 8 de dezembro de 2007

Grito


Silêncio!
do silêncio fasso um grito
corpo todo me dói
deixai-me chorar um pouco.

Só à sombra
como o sol vou rebolindo
de sombra assombrada
já lhe perdi o sentido.

Ó céu!
aqui me falta a luz
aqui me falta uma estrela
chora-se mais
quando se vive atrás dela.

E eu,
a quem o sol esqueceu
só dou ao mundo perdão
só choro agora
porque quem morre já não chora.

Solidão!
que lembras-me a santeira
ao céu da companheira
minha profunda amargura.

Ai, solidão
a quem foste confiante
Ai! solidão
e se morderam a cabeça.

Meu Deus
que ao fim do além da vida
do que já fui tenho sede
sou sombra triste
encostada a uma parrede.

Adeus,
vida que ranto duras
da morte que tanto gabas
ai, que me dês
a solidão quase loucura.

Amália Rodrigues

sábado, 1 de dezembro de 2007


Amália Rodrigues - Disse-Te Adeus E Morri Lyrics


Disse-te adeus e morri

E o cais vazio de ti

Aceitou novas mares.

Gritos de buzios perdidos

Roubaram dos meus sentidos

A gaivota que tu es.

Gaivota de asas paradas

Que nao sente as madrugadas

E acorda noite a chorar.

Gaivota que faz o ninho

Porque perdeu o caminho

Onde aprendeu a sonhar.

Preso no ventre do mar

O meu triste respirar

Sofre a invencao das horas,

Pois na ausencia que deixaste,

Meu amor, como ficaste,

Meu amor, como demoras.




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